FRANCÊS – tradução

Created with Sketch.

TRADUÇÃO

FRANCÊS

Professora responsável: Mônica Fiuza BF (UFF/LABESTRAD)

A tradução para legendagem percorreu a história. Até início dos anos 90, o mercado audiovisual no Brasil era bem delineado. Existiam canais de TV aberta com programas dublados e os serviços de legendagem eram contratados pelas próprias distribuidoras de vídeo e cinema. Dessa forma, estava longe de haver um mercado de vídeo online propriamente dito. Com a disseminação da TV a cabo e, posteriormente, com o surgimento e expansão do mercado de vídeos online resultante do advento da internet, esse mercado cresceu rapidamente. Para fazer face às novas demandas do mercado de trabalho da tradução, o LABESTRAD, incluiu essas técnicas em suas atividades de extensão, pesquisa e ensino.

O processo de tradução para legendagem consiste em observar que o tempo necessário para a leitura de uma legenda é bem maior do que o tempo da fala, correspondente àquele texto. A tradução dos vídeos-verbete é um processo muito mais complexo do que se imagina: é necessário conhecimento das línguas de trabalho, das culturas e entendimentos dos conceitos e da ‘linguagem da AD’. Para tal, uma metodologia de trabalho foi instituída: leituras de alguns textos teóricos da AD, constituição de um glossário básico dos principais conceitos da AD, encontros e discussões com os coordenadores e membros do LAS/UFF. Para complementar, foram realizados minicursos, jornadas, seminários e treinamento no programa para legendagem (Subtitle Workshop 6.0) escolhido pelo LABESTRAD para esse trabalho.

O maior desafio seria fazer ‘versão’ e não tradução. Versão, do latim Vertere, girar.  No senso comum versão é uma variante de alguma coisa original, por exemplo, ” A versão que aquele diretor dá dessa peça de Molière é genial”. “Vou dar a minha versão desse fato”.  Ou seja, é uma interpretação, uma adaptação. Se a tradução é uma das atividades humanas mais difíceis, a versão requer ainda mais competências. A questão das escolhas, em uma tradução, é muito importante. Se traduzo da língua estrangeira para a materna, tenho sempre muitas possibilidades de escolha.

Na versão, o conhecimento da língua estrangeira nunca é perfeito, sempre haverá detalhes, não-ditos, etc. que só um nativo entende. Mesmo conhecendo uma língua estrangeira muito bem, mesmo penetrando na intimidade de um povo que não é o nosso, talvez seja impossível perceber a linguagem e as obras literárias como alguém do mesmo país. Há sempre alguma fração de sentido, alguma ressonância delicada ou extrema que escapa: nunca estaremos seguros de uma total e incontestável compreensão. No caso dos vídeos-verbete da AD, nomeada na França por Guespin que era partidário de que a análise de discurso fosse parte da sociolinguística, gerando enorme polêmica. Mais tarde, após a morte de Michel Pêcheux, este nome tem sido dado a trabalhos que são de muitas e diferentes ordens teóricas, metodológicas e que nada tem de articulado em seus procedimentos. De fato, a AD compõe-se de um conjunto de estudos de diferentes disciplinas da linguagem como a própria análise de discurso, mas sobretudo da pragmática, da linguística textual, da teoria da enunciação, da sociolinguística etc.

Interessante é notar que os primeiros textos da AD foram traduzidos para o português e agora vertemos para o idioma francês conceitos, fato que facilitou o trabalho de versão, uma verdadeira ousadia de nossa parte.

Até que ponto deve-se alterar o que foi dito? Tal questão, tanto na tradução quanto na legendagem, é polêmica. A delimitação de até onde um tradutor/legendador pode alterar o texto original com o intuito de melhorar e/ou consertar determinado “erro” é subjetiva. Primeiramente, o tradutor precisa ter a consciência de que o processo tradutório é uma interpretação ‘inter’ ou ‘intralingual’ em que desempenha o papel de coautor, ou seja, a fidelidade total ao texto produzido é utópica. O tradutor atém-se, então, à fidelidade semântica, como afirma Paul Ricoeur (2012, p.54) “compreender é traduzir”. É preciso traduzir a ideia e não a palavra.

Além do mais, quando falamos de legendagem, estamos diante de uma tradução que se difere do texto escrito pela presença do conteúdo oral na língua de origem que estará sendo reproduzida em simultâneo com o texto em língua de chegada.

Para tal, no processo de legendagem, optou-se por:

– Eliminar hesitações e partes de palavras recorrentes das autocorreções, típicas à da oralidade;

– Suprimir marcas da oralidade (marcadores discursivos) ou mesmo repetição de termos e expressões;

– Seguir as normas de pontuação da escrita e segundo as pistas de entonação do locutor;

– Reordenar as frases e orações que ficaram truncadas ou pouco claras;

– Adequar a fala informal ao texto escrito formal;

– Consertar desvios fonéticos e incoerências visuais.

REFERÊNCIAS:

 

MARTINEZ, S. L. tradução para legendas: uma proposta para formação de profissionais, 2007, in  https://doi.org/10.17771/PUCRio.acad.10689

RICOEUR, P., Sobre a tradução. Editora UFMG, Belo Horizonte, 2012.

Labestrad – Laboratório de Estudos da Tradução da UFF
Rua Prof. Marcos Waldemar de Freitas, s/no. Campus do Gragoatá – Bloco C – sala 328
Niterói, RJ – CEP 24210-201